terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Estação


A cidade de Quatá no interior de São Paulo conhecida como da Alta Sorocabana era e ainda é muito pequena. A família de minha mãe era de lá e algum tempo depois dela se casar, mudou-se com meu pai para São Paulo e então sua cidade natal era visitada por ela e nós, os filhos, durante as férias escolares. Tia Maria morava em uma das casas que naquela época construíam para os trabalhadores da Estrada de Ferro Sorocabana e seu marido era um destes funcionários e teve o privilégio de ter sua casa em frente à estação. Tia Maria era irmã de minha mãe. Saíamos de São Paulo e viajávamos por doze horas, quando não aconteciam atrasos, em um trem de passageiros chamado Super Luxo. A máquina que puxava os vagões era movida a eletricidade até a cidade de Assis onde faziam a troca para máquina a diesel e de lá seguia até Presidente Epitácio que conhecíamos como a última cidade que formava a chamada Alta Sorocabana. O trem era longo e em cada conexão entre os vagões havia uma meia-porta tipo sacada que se podia apreciar a paisagem. Era lindo ver o céu carregado de estrelas na madrugada que se estendia com a viagem. As cidades em seus silêncios noturnos e os gatos pulando de muro em muro. Amanhecia e o trem seguia seu destino lado a lado com os gados nas pastagens, os trabalhadores do campo na lida diária, as pequenas casas com suas chaminés e a primeira fumaça do café. Quanto mais o trem se distanciava da capital, menores eram as estações e poucos eram os passageiros que embarcavam ou desembarcavam sempre com familiares ou amigos esperando os que chegavam ou dando adeus aos que partiam. Em cada uma delas uma placa anunciava a cidade do momento, a que havia ficado para trás e a próxima parada. Ler todas elas era minha diversão muito embora não entendesse as tais latitude e longitude que só mais tarde, na escola, é que pude reconhecer estas estranhas palavras.

Fato é que as plataformas das estações guardavam muitos sentimentos, muitos risos, muitas lágrimas e muitos segredos. Sempre achei muito engraçado ver minhas primas, mais velhas do que eu, vestindo-se dos melhores vestidos, ajeitando os cabelos, perfumando-se, olhando-se no espelho e no relógio que indicaria a exata hora de atravessar a rua, entrar na estação e poder esperar, juntamente com tantos outros da cidade, a chegada do Super Luxo com destino a São Paulo que chegava ao anoitecer. Era uma das principais atrações da cidade e segundo elas havia a possibilidade de conhecer um moço bonito pra namorar ou mesmo só para flertar. O amor relâmpago não durava mais que dez minutos. O Chefe da Estação anunciava a partida no sinal agudo de um salivado apito e no terceiro toque era o maquinista quem puxava o apito do trem despedindo-se devagarzinho, sumindo aos poucos, deixando para trás a esperança vestida em tons delicados e ingênuos que se apagava juntamente com as luzes da estação como quem encerra o primeiro ato de uma peça teatral.

domingo, 7 de outubro de 2012

eternidade

e os dias gelados tornaram-se quentes
porque quente é a espera
que brinca com a imaginação
que cria sensações
e não sofre
e não chora
apenas espera...