quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Descartáveis

A notícia veio do outro lado do mundo. Enquanto nos enroscávamos preguiçosamente no negro manto da noite de verão brasileiro o Ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, declarou que os idosos deveriam se "apressar e morrer" uma vez que representam um grande gasto do governo com a saúde pública.

Mais de dezoito mil quilometros nos separam e mesmo assim as pessoas sentiram-se atingidas. A notícia entrou nos lares,  nos bares, nas praças, nos pontos de ônibus, hospitais, postos de saúde. Entrou em mim. Senti meu futuro ameaçado justo agora que as estatísticas apontam expectativa de vida maior para nós, brasileiros. Trouxe à tona o que sempre falei  aos meus  amigos e familiares de que estamos nos tornando uma sociedade descartável. Não se conserta e nem se  faz remendos. Apenas troca-se. Nossos velhos ficam de lado, como um incômodo objeto que não queremos, mas não sabemos o que fazer com eles. Nossos filhos aprendem a descartar os avós, os tios, a família e um dia irão nos descartar também.

O Japão é o segundo maior do mundo em expectativa de vida e eu achava isso legal. Poder curtir a vovó, o vovô e ter deles as doces lembranças. Escutar suas estórias e toda a trajetória de vida é acumular a nossa estória, é saber de onde viemos e poder nos reconhecer. Eles são nosso arquivo, a nossa caixa preta e esta caixa, ao contrário do avião, só podemos vasculhar enquanto tem vida.

É preciso amar mais. Querer mais. Valorizar mais. E acima de tudo é preciso aprender a preservar.