segunda-feira, 25 de outubro de 2010

PUTAS TRISTES

Esta noite você não me terá. Sei que se habituou aos meus toques, ao meu riso, meu silêncio. Espera-me todas as noites não é? Um Encontro Marcado. Não. Isso nunca! Não é traição. Apenas uma troca. Uma vontade do diferente. São tantos! Isso não me faz infiel e tão pouco que eu esteja te deixando para trás. Quisso? Tanto tempo juntos e ainda não me conhece? Gosto do doce sabor das noites ao teu lado. Quantas vezes adormeci com o rosto colado em você. Nunca se incomodou. Sei disso. Perdi também a conta das vezes que acordei com você em meu peito, aconchegado, quieto e com cuidado te afastava. Muitas vezes nos reviramos na cama sempre à procura do melhor jeito, maior conforto. Nossa! Eu te reviro, te dobro, percorro minhas mãos em você por inteiro e cada vez te quero mais e mais ao meu lado. Pera lá! Tá me fazendo lembrar estas coisas só para não te abandonar? Sacanagem. Logo você querendo me proibir em conhecer o novo? To te estranhando. E também ele nem é tão novo como você pensa. Novo em teu lugar. Novo na diferença em falar. Nem sei se nos daremos bem. Nem sei se baterá saudade de você. To tão acostumada... Ah! Ficar com os dois será uma loucura. Uma boa mistura, mas não sei... Você agüenta? Por mim tudo bem. Deixo você ali do ladinho enquanto ele e eu nos conhecemos. Faça isso por mim.

Pois é Fernando Sabino, esta será a noite que você ficará somente olhando... Por algum tempo estarei colada nas graças de Gabriel García Marques e suas Putas Tristes.

MÃOS NO CÉU

Precisou pedalar por algum tempo e voar despreocupadamente com os pássaros para buscar algo que ficou para trás há muitos anos.

Avistou a menininha com pezinhos bem encaixados nos vãos da cerca, rosto apoiado nas mãos, olhar perdido no infinito.

Teimava em tocar o céu. Ela o via no final daquela estrada, que vez por outra, levantava poeira com a passagem de carroças. No mais era só silêncio. Passarinhos bailavam exibindo suas asinhas e canto afinado. Eram leves. Livres. Soltos. Quanta inveja sentia. Uma vez passarinho e iria passarinhar mundo afora.

Um dia iria sim. Buscaria o céu e tocaria aquele azul com as mãozinhas e quem sabe até traria um pedaço para a Dinda.

Dinda contava que aquele céu no final da estrada era apenas uma pintura e que chegando, lá não estaria. Era preciso andar mais e mais para nunca chegar. Dinda dizia que vivendo a gente crescia e crescendo envelhecia e envelhecendo morria e morrendo... A porta do céu se abria.

- Essa Dinda tem cada uma! Pensou a menininha.