Entre as tantas coisas que tenho bem guardadas a Agenda de minha mãe é uma delas. Não consigo desfazer-me deste pequeno livro. Sim, livro e não agenda, pois as informações contidas nas poucas folhas vão muito além de simples números telefônicos.
Existe nela um aglomerado de informações. É como se mamãe andasse presa a ela, assim como nos prendemos em agendas eletrônicas, laptops, celulares.
Surpreendo-me a cada nova leitura que faço. São endereços diversos, lembretes de prestações a vencer, tons de cores e seus referidos números para as portas da casa, ônibus que deve pegar e qual o momento que deve puxar o sinal para saltar no ponto de referência, horário de saída do trem que seguia para o Pantanal. Pantanal? Pra quê? Nunca mamãe foi ao Pantanal! Estaria ela arquitetando uma fuga? Gente! Minha mãe era um mini Google!
Ah! Esta é demais! Veja só: “Doracy – Rua Archote do Peru número 191 apto 41, ou seria número 131... é que não estava bem legível, mas tenho o telefone se precisar” este recado era para ela mesma. Ivone (prima) tem o número do telefone e ao lado, em letras miúdas, um lembrete que o endereço está no verso da folha. Não entendi. A folha está cheia de espaço!
Espertinha que só, gravou em letras graúdas o código para ligações a cobrar. Isso sem falar nos cremes caseiros para prevenir acnes, rachaduras dos pés e amaciamento das mãos.
Na última folha, melhor dizendo, na contra capa, tem uma receita de chá para dormir. Chá de papoula. Minha mãe tomava chá de papoula? Isso não sei responder, mas ela adormeceu para sempre no dia 04 de janeiro de 1996.
É engraçado que as anotações estão nos cantos, laterais, capa, contracapa, de ponta cabeça, entrelinhas; e ela entendia tudo. E eu nem posso falar muito, pois curiosamente minha agenda causa irritação quando alguém em casa atende ao telefone e sou eu na rua precisando de alguma coisa que está anotada nela ouço a famosa frase: “Puta que me pariu! Você é foda!” Está no DNA. Não tem jeito.