quarta-feira, 8 de junho de 2011

poesia no prato

Pouco tenho vindo ao meu blog e isto tem explicação. O trabalho tem consumido muitas horas de meu dia e no momento não estou podendo borboletear nas palavras. O grande barato disso tudo é que elas, as palavras, não param de circular em minha cabeça. É um emaranhado tão grande que por fim não encontro o fio da meada. Isto é normal, afinal pensar, falar e escrever tem lá suas diferenças; e quando temos que escrever é que notamos que fica mesmo mais difícil, pois na escrita não existe o gesto, o olhar, as expressões faciais. Estou por aqui voltada ao meu trabalho que não deixa de ter seu lado poético, pois estou enchendo barrigas e apreciando olhares de satisfação. O ser humano adora mesmo comer. Verdadeiros glutões na hora do almoço. É! Almoço tem hora sim senhor! Eu não sabia disso. Aliás, havia me esquecido, pois durante muitos anos aprendi a comer na hora que tivesse fome. Lembro-me muito bem quando ficava na casa de minha avó. Lá o almoço era servido ao meio dia. Este horário não podia ser mudado porque meus tios trabalhavam perto e almoçavam em casa. Eu ficava na mureta junto ao portão olhando o movimento da rua. As fábricas disparavam longos apitos avisando que era onze horas. Uma grande leva de operários aglomerava-se na rua em busca de suas casas, pensões ou bares que serviam refeições. Aprendi com minha avó a cantarolar: "onze horas macaco chora fazendo careta pra dona Aurora"... "meio-dia macaco chia fazendo careta pra dona Maria". Assim eu ficava na mureta e ganhava muitas balinhas. É... cozinhar tem lá sua poesia. São pequenas misturinhas de cores vindas de todos os temperos que se enfurnam  no branquinho do arroz, no marrom do feijão e de todas as delícias que os acompanham. Um desfile de escola de samba. Ora se é! Ala das baianas enfeitadinhas é do arroz. A bateria fica por conta dos feijões e os figurantes são os chamados acompanhamentos. Um festival de cores e sabores que só podem mesmo encher olhos, bocas e panças! É isso que tenho feito. Descobri que minhas mãos vão além do fuçar, escrever, cutucar, coçar, apertar, chamar e acenar adeus. Elas sabem cozinhar e foi no meu pequeno restaurante que aprendi a fazer poesia no prato. Entendi que desta forma não serei esquecida.