quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Mundo, seu lindo!



Justo agora seu mundo?

Não está sendo nada justo

Parece que as coisas por aqui vão se consertar

Olhe, ainda tenho aqui aqueles ingressos

Nem todos ali eram cegos

Tanto que eu queria ver

Queria ver a banda passar pelas bandas das bandas de lá

Não entendeu?

Pois é, também achei isso antigo

Os ingressos? Ah! Estão quase vencidos, mas não desisto

Podem até amarelar e mesmo assim vou esperar

Ah! Seu mundo lindo!

Acaba não

Ainda quero tirar uma nota de meu violão

Quero andar de avião

Subir a Consolação

Gritar minha paixão

Quero comer algodão doce

Brincar de cego no parque

Olhar nos olhos do menino

E mais uma vez me encantar

Cantar, correr, pular, jogar conversas no ar

Fazer bolinhas de sabão

Andar na contramão

Lavar meu ursinho Pimpão

Nem terminei os livros que comecei

Não repus aquele que eu dei

E você já quer acabar?

Ah! Vá se danar!

Espere ao menos eu me deitar



terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Estação


A cidade de Quatá no interior de São Paulo conhecida como da Alta Sorocabana era e ainda é muito pequena. A família de minha mãe era de lá e algum tempo depois dela se casar, mudou-se com meu pai para São Paulo e então sua cidade natal era visitada por ela e nós, os filhos, durante as férias escolares. Tia Maria morava em uma das casas que naquela época construíam para os trabalhadores da Estrada de Ferro Sorocabana e seu marido era um destes funcionários e teve o privilégio de ter sua casa em frente à estação. Tia Maria era irmã de minha mãe. Saíamos de São Paulo e viajávamos por doze horas, quando não aconteciam atrasos, em um trem de passageiros chamado Super Luxo. A máquina que puxava os vagões era movida a eletricidade até a cidade de Assis onde faziam a troca para máquina a diesel e de lá seguia até Presidente Epitácio que conhecíamos como a última cidade que formava a chamada Alta Sorocabana. O trem era longo e em cada conexão entre os vagões havia uma meia-porta tipo sacada que se podia apreciar a paisagem. Era lindo ver o céu carregado de estrelas na madrugada que se estendia com a viagem. As cidades em seus silêncios noturnos e os gatos pulando de muro em muro. Amanhecia e o trem seguia seu destino lado a lado com os gados nas pastagens, os trabalhadores do campo na lida diária, as pequenas casas com suas chaminés e a primeira fumaça do café. Quanto mais o trem se distanciava da capital, menores eram as estações e poucos eram os passageiros que embarcavam ou desembarcavam sempre com familiares ou amigos esperando os que chegavam ou dando adeus aos que partiam. Em cada uma delas uma placa anunciava a cidade do momento, a que havia ficado para trás e a próxima parada. Ler todas elas era minha diversão muito embora não entendesse as tais latitude e longitude que só mais tarde, na escola, é que pude reconhecer estas estranhas palavras.

Fato é que as plataformas das estações guardavam muitos sentimentos, muitos risos, muitas lágrimas e muitos segredos. Sempre achei muito engraçado ver minhas primas, mais velhas do que eu, vestindo-se dos melhores vestidos, ajeitando os cabelos, perfumando-se, olhando-se no espelho e no relógio que indicaria a exata hora de atravessar a rua, entrar na estação e poder esperar, juntamente com tantos outros da cidade, a chegada do Super Luxo com destino a São Paulo que chegava ao anoitecer. Era uma das principais atrações da cidade e segundo elas havia a possibilidade de conhecer um moço bonito pra namorar ou mesmo só para flertar. O amor relâmpago não durava mais que dez minutos. O Chefe da Estação anunciava a partida no sinal agudo de um salivado apito e no terceiro toque era o maquinista quem puxava o apito do trem despedindo-se devagarzinho, sumindo aos poucos, deixando para trás a esperança vestida em tons delicados e ingênuos que se apagava juntamente com as luzes da estação como quem encerra o primeiro ato de uma peça teatral.

domingo, 7 de outubro de 2012

eternidade

e os dias gelados tornaram-se quentes
porque quente é a espera
que brinca com a imaginação
que cria sensações
e não sofre
e não chora
apenas espera...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Baby

Baby

Caetano Veloso



você precisa saber da piscina
da margarina
da Carolina
da gasolina
você precisa saber de mim
baby baby
eu sei que é assim
você precisa tomar um sorvete
na lanchonete
andar com a gente
me ver de perto
ouvir aquela canção do Roberto
baby baby
há quanto tempo
você precisa aprender inglês
precisa aprender o que eu sei
e o que eu não sei mais
e o que eu não sei mais
não sei, comigo vai tudo azul
contigo vai tudo em paz
vivemos na melhor cidade
da América do Sul
da América do Sul
você precisa
você precisa
não sei
leia na minha camisa
baby baby
I love you. 
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A Lanterna


Recentemente estive na Argentina e ganhei da amiga Rosa Gimenez uma pequena lanterna que também é um isqueiro. Muito bem, ilumina nas duas pontas e foi providencial este presente. Nem tanto pelo isqueiro  que me faz lembrar do maldito cigarro que penso sempre em deixar este vício aos poucos e penso tão pouco que por fim não deixo. Quem sabe ainda compre um cachimbo e passe o resto de meus dias pitando assim como minha amiga Neves. Enquanto ela pitava contava-me muitas histórias e eu gostava de ouvir. Queria mesmo era estar pitando ao lado dela agora. Mas o assunto no momento é a tal lanterna. Bolsa de mulher nunca é organizada. Esta frase ficou forte? Tudo bem. Noventa e nove por cento das bolsas femininas não são organizadas. Melhorou? Se eu mudar a porcentagem então aí estarei mentindo. A minha bolsa é uma bagunça e não pense que direi que tem de tudo lá dentro. Quer dizer... tem um monte de porcarias que não servem para nada e nem mesmo a lanterna resolveu naquela noite.  Nervosamente tateava em busca de umas balinhas Halls que havia jogado no meu Buraco Negro, é assim que chamo minha bolsa, e não encontrei. Por fim, senti nas mãos o que identifiquei sendo a lanterna e rapidamente acionei o botão para ligá-la. Não resolveu e ainda paguei mico, pois rapidinho alguém disse: até lanterna você tem na bolsa? Como se eu carregasse de tudo mesmo na bolsa e na verdade só transporto nela tudo aquilo que involuntariamente jogo lá dentro.
Rosa, minha querida, não se aborreça, não foi a lanterna, mas sim o momento que foi de muita euforia.  

sábado, 15 de setembro de 2012

lado a lado (série retratos da imaginação)




Menino, o que está fazendo aí deste lado?
Seu lado é o lado de cá
Assim, juntinho, ficamos lado a lado
Tal como deveria ficar

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A HÓSTIA (Série Retratos da Imaginação)


Seus olhos brilharam ao perceber que o padre, após a cerimônia de formatura, colocaria em cada boca da grande fila, aquele fino pedaço de massa que ela tanto queria experimentar. Nunca pôde sequer chegar perto da hóstia e tão pouco chegou naquele dia.  As meninas que com ela compunham a fila dos formandos a impediram dizendo que para receber das mãos do padre a tal hóstia era preciso ter feito a primeira comunhão. Nem primeira, nem segunda, nem nunca! A foto ficou na imaginação e a hóstia nem tinha tanta graça assim.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Retratos da Imaginação


Fotografias são mesmo fatos marcantes de nossa história. Nelas gravamos momentos importantes de nossas vidas e hoje, com toda essa parafernália que a tecnologia nos brindou, fica muito mais fácil gravarmos todos os momentos que desejamos e nos dá também a possibilidade de eliminarmos rapidamente, caso não estejam ao nosso contento. Anos atrás poucas famílias registravam as imagens importantes, pois nem todos possuíam uma câmera fotográfica. Era comum visitar parentes e amigos e em determinado momento todos se sentavam para apreciar e comentar as fotos que cuidadosamente ficavam guardadas em álbuns, caixas de sapatos e gavetas. Na minha casa a coisa era diferente. Vivíamos de aluguel e com o passar dos anos muitas das fotos ficaram perdidas em decorrência das mudanças. Outro fato determinante para o desaparecimento delas é que serviam de papel lembrete em seu verso. Era comum encontrar listinhas de mercado, cálculos de contas a pagar, receitas de tortas e bolos. Um dia me dei conta da importância das imagens, das histórias que continha em cada uma delas e ainda menina passei a juntá-las e fazer meu pequeno acervo.  Não sobraram muitas, mas as que pude recuperar estão muito bem guardadas.

Cada imagem registrada tem sua história. Pode ter sido um aniversário, uma reunião em família, passeio no parque, uma viagem de férias, festas de final de ano. Amigos, parentes, bichinhos de estimação, roupas que estavam na moda, infinitas paisagens, muitas cores e até mesmo colorido nenhum, apenas o preto e branco sumido... descolorido... que o tempo implacavelmente deixou suas marcas.

Ah! O tempo! O tempo que também levou muitos daqueles que ali estão registrados.

E o que dizer daquela imagem que não foi registrada? Sim! Aquele momento que nos arrependemos de não  estarmos fortemente armados com nossas poderosas máquinas de congelar poses e situações! Faltou o “clic” e apenas deixamos em nossa memória. E é a partir daí que resolvi fazer uma série de “clics” de fotografias que ficaram somente nas recordações silenciosas e invisíveis do confuso arquivo desta minha cabecinha cheia de caraminholas.


quarta-feira, 7 de março de 2012

Isac



Isac conta que prestou alguns exames para o cargo de Agente da Interpol e passou com as melhores notas, mas infelizmente perdeu a vaga, pois ao solicitar seu passaporte teve problemas com prazo da entrega e por fim não pôde comparecer em data e hora previamente marcadas.

Isac perde o olhar no horizonte e conta que foi motorista particular de um grande empresário no Rio de Janeiro e que em uma das viagens  perdeu a direção, capotou o carro e deu perda total, inclusive do emprego.

Agora Isac receberá suas férias e com o dinheiro que poupou ao longo dos anos irá para a França. Está encantado com a imagem da Torre Eiffel que viu em uma fotografia. Não está preocupado com o idioma. Sua única preocupação é se lá tem arroz e feijão. Não vive sem esta combinação.

Isac é assim. Limpa piscinas e cuida de jardins e o que ele faz de melhor é pegar carona no vento e sonhar.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Seja Bem Vindo 53

53? Se me dissessem aos 15 anos que eu chegaria até aqui viajaria na idéia e acharia graça vendo-me bastante velha, esquecida em meus pensamentos e correndo em busca daquilo que foi meu passado. Cheguei; e meu passado nunca esteve tão perto de mim. Andei em círculos, rodeando a mim mesma e tudo porque sempre gostei muito de tudo o que fui. Em momento nenhum mudaria as cenas. Tudo o que fui refletiu no que hoje sou. Cresci. Alegrias e sofrimentos fizeram parte de minha evolução e os caminhos por mim traçados, se foram tortuosos, eu os caminhei e se senti foi por pura necessidade e sede de viver. Como é bom todas as manhãs abrir os olhos e encontrar tudo como foi deixado na noite anterior. Saber que você depende da vida e que a vida depende de você. Viver tornou-se um vício gostoso e esse gosto pela vida fez com que eu aprendesse a olhar tudo de maneira diferente. Aprecio mais as pessoas, o riso, as palavras. Aprendi a me respeitar, a olhar com mais carinho para mim e de quando em quando me perguntar se estou feliz assim do jeito que estou. Aprendi que o futuro não me interessa, pois ele virá de qualquer forma e por isso mesmo não preciso apressá-lo. Aprendi que é deste mundo que espero o que ele tiver guardado para mim, ao contrário dos que dizem existirem outros mundos e esperam ser felizes lá. Se posso ser feliz aqui neste planetinha é nele que irei tentar. Não vejo sentido algum empurrar meus dias para uma outra vida até porque nem sei se isto é só um sonho, uma covardia, um medo de lutar.  Respiro vida. Cheiro vida. Amo vida. Quanto ainda me resta? Quem é que pode saber! Medo de morrer? Não tenho não. Tenho medo de não viver.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um Engano

Vejo muitas pessoas falarem que estão aqui, neste planeta, a passeio, só de passagem, passando uma chuva... e então cheguei à conclusão de que desembarquei no planeta errado.