A viagem era pequena e rápida. Assim deveria ser, mas o destino, sempre ele, agiu de forma a não permitir o rápido retorno.
Tudo que ela faria ao sair da cidade de Itanhaém localizada no litoral de São Paulo era desembarcar na cidade de Osasco também em São Paulo e resolver problemas burocráticos de algumas propriedades que tem por lá.
Tratando-se de curta viagem poderia retornar no mesmo dia, mas já no cartório de registros recebeu a primeira ligação em seu celular com a triste notícia de que seu primo havia sofrido acidente de automóvel e encontrava-se internado em um hospital da cidade e que seu estado clínico era grave.
Deixou os documentos para depois e correu em direção ao hospital onde se encontraria com os demais parentes. Permaneceu ali por algumas horas em companhia de familiares mais próximos no aguardo de informações mais exatas sobre o paciente em questão.
Exausta da viagem e da correria sentou-se num pequeno e desconfortável banco de madeira que naquele momento tornou-se o melhor assento do mundo e se pôs a pensar nas tantas voltas que a vida dá. Novamente o toque do celular e mais uma notícia. Desta vez a informavam que a tia, mãe do rapaz acidentado, encontrava-se hospitalizada em estado de choque.
Rapidamente cruzou a cidade indo de encontro ao hospital onde a tia estava sendo atendida. Foi informada sobre o estado geral da paciente, mas ainda não poderia vê-la. Aguardou, mas desta vez em um gelado banco de concreto. Olhou pela janela e percebeu que anoitecia. E ali adormeceu e o dia amanheceu.
Acordou amarrotada, torta, dolorida. Procurou o balcão de informações e soube que sua tia receberia alta assim que o médico passasse em visita. Animou-se. Tomou café. Acendeu um cigarro. Sentiu o frio das primeiras horas da manhã. Avisou a família e aguardou.
Mas o destino não queria mesmo dar sossego a ela. O celular toca novamente. Assombrada atende e se dá conta de que um tio que já estava muito doente há algum tempo faleceu naquela manhã e comunicavam o velório aos familiares. Calou-se. Perdeu-se como bala em tiroteio. Perguntou inúmeras vezes porque saíra de Itanhaém. Odiou o celular e cada centavo que gastou quando o adquiriu. Nem endereço fixo queria ter mais. Não queria ser encontrada. Naquele momento queria morar em qualquer lugar e melhor seria se morasse em lugar nenhum. Estava cansada, amassada, descabelada. Logo ela uma cabeleireira? Ninguém entenderia!
Saiu sem saber pra onde iria e resmungando lá do seu jeito desculpou-se com Deus pedindo que ele entendesse que desta vez a barra estava pesada.
Foi para o velório que durou toda a noite e somente pela manhã o tio foi enterrado. Ao sair dali rumou para a rodoviária. Comprou o bilhete de viagem e soube que a espera seria de duas longas horas. Desolada sentou-se no primeiro banco que encontrou, desligou o celular e esperou.
Meu carinho para minha amiga e cabeleireira Cida Campos
Meu carinho para minha amiga e cabeleireira Cida Campos
Uau. Que viagem... Inesquecível. Bela narrativa. Parabéns. Grande abraço. Fuji
ResponderExcluir