sexta-feira, 16 de julho de 2010
CACHORRO QUE LATE...
sábado, 10 de julho de 2010
Diaristas
Palavrinha Mágica
Foi na pequena cozinha do apartamento que eu morava no bairro da Freguesia do Ó que surgiu a palavrinha mágica. Móveis planejados. Concordo. Planejados mesmo para dar tudo errado. Os armários eram altos, pois era a única forma para que dentro da cozinha pudessem ser guardados os utensílios utilizados na própria e também as compras do mês, pois na década de noventa a inflação era galopante e para que não houvesse tanta perda de salário era fundamental que se fizesse grandes compras nos supermercados e com isso um bom estoque na despensa. O sofrimento para mim era grande demais. No meu metro e cinqüenta e quatro tudo ficava muito difícil e por isso alguns objetos, ou seja, os mais utilizados no dia-a-dia ficavam no gabinete da pia que compartilhava com um gaveteiro. Tudo ia muito bem até que uma diarista porreta, dessas que chegam esguichando água por todos os lados ficou responsável pela limpeza semanal do apartamento enquanto eu trabalhava. Moça de confiança e um “trator” na limpeza: - era o que dizia minha amiga passando-me as referências sobre a diarista. Não tendo tempo de acompanhar o primeiro dia de trabalho da referida faxineira deixei apenas as chaves na portaria e um “Seja o que Deus quiser” em pensamento. À noite fiquei satisfeita com o resultado. Cômodos muito bem limpos, móveis brilhando, cheiro de limpeza no ar. Estava aprovada. Nada como poder livrar-me daqueles afazeres nos finais de semana. O tempo foi passando e Neusa, este era o nome do trator, foi garantindo a manutenção da casa. Foi então que os problemas, aos poucos, foram surgindo. Percebia que em todo momento que precisava abrir uma gaveta do gabinete da pia, não conseguia. Travava-se ali uma guerra. Nunca tive paciência com estas coisas que emperram. Minha vontade é enfiar logo o pé e acabar com a tortura. Fico resmungando, xingando, olho pra cima como se lá em cima tivesse alguém para ajudar ou mesmo para encaminhar uma solução. E tudo que eu tinha em cima de mim, naquele momento, era o nono andar. O tempo foi passando e cada vez mais as gavetas ficavam difíceis de serem abertas. Descobri tarde demais que era o “trator” que ao lavar os azulejos não se perturbava com a beleza do madeiramento e fórmica de meus armários planejados. Foi assim que a palavrinha mágica surgiu. Numa noite, ao chegar do trabalho, resolvi fazer uma sopinha. Seria sopa fazer uma sopa, não fossem a concha e os talheres, presos, trancafiados, lançados à própria sorte dentro daquele maldito gaveteiro. Fiz força. Tentei de todas as maneiras. Forçava um lado. Não dava. Forçava o outro lado. Nada. Abria as portas ao lado para ver se havia ali um meio de comunicação. Nada. Colocava um dos pés na gaveta vizinha e com as duas mãos puxava a outra. Nem se mexia. A putaria foi tanta que chamou a atenção de minha filha que correu para assistir o espetáculo de camarote. Minha pequena platéia tinha três anos. Estava adorando. Sem entender nada ficou ao meu lado dando pulinhos e quando podia juntava suas mãozinhas às minhas para ajudar a puxar. O marido? Ah! Em situações assim ele preferia ficar longe. Em determinado momento, quase vencida pelo “bonitão planejado”, respirei fundo, removi minha pequena platéia do local em questão, reuni toda a força bruta em minhas mãos e num urro de animal enfurecido gritei: Caralhooooooooooooooo!!! E a maldita gaveta bruscamente veio em minha direção caindo sobre meu corpo já estatelado no chão. Em meio ao silêncio que se fez pude escutar as mãozinhas de minha pequena platéia aplaudindo. Sentia-me arrasada, mas sorri. Não pude evitar. E com o passar dos dias pude ver o efeito das palavras. Minha filha, numa destas noites em que se chega do trabalho explodindo de cansaço, a pequena tentou abrir uma das gavetas e não conseguindo gritou: Talaiooooooooooooooooooo. E a gaveta, como num passe de mágica, abriu-se para ela.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
O PENSAR
Sabe, estive pensando. É verdade. Pensando muito. Disseram-me que faz bem pensar. E já soube até que tem gente que sofre disso. Aí pensei: ué? Se sofre, então não faz bem. Mesmo assim pensei, na verdade sem saber direito o que é pensar. É complicado explicar o meu pensar. Mistura-se com muitos pensares. Fica um pensamentão, uma bola gigante que passeia pensando em minha cabeça batendo levemente como batidas do coração. Aí pensei: pulsar... pensar... Ah! Não. Não vai combinar. Mas pensamentos pulsam. Latejam. Palpitam. Agitam. Então pensei: Se eu pensar, vai palpitar e se palpitar é porque consegui pensar. Foi então que pensei: preciso pensar no que quero pensar, pois assim penso bem. Começo pensando que eu penso. Que tu pensas. Que ele pensa. Que nós pensamos. Que vós pensais. Que eles pensam. Eles pensam? Penso que pensam sim. Viu? Eu disse penso e sendo assim então eu penso. Mas o que é que eu estava pensando mesmo quando comecei a escrever? Viu? Já esqueci. E esquecer é deslembrar. É perder-se no caminho do pensar. E como devo procurar? É pensando não é? Então vou pensar...