sábado, 10 de julho de 2010
Diaristas
Meu trator Neusa era mesmo fantástico. Fazia de minha casa, sua casa e por este motivo muitas vezes deparei com os enfeites totalmente fora de seus lugares, ou seja, lugares que eu havia determinado para eles. Com estas mudanças havia a garantia de que realmente tinha tirado o pó das prateleiras, consoles e estantes, mas por outro lado fazia uma confusão dos diabos com as miniaturas que ao longo do tempo acumularam-se por todos os cantos da casa. Pois bem, no meio destas miniaturas havia a imagem de São Judas Tadeu a quem meu marido dizia que devia muitas graças. Nunca perguntei quais eram as graças por ele alcançadas porque na verdade nunca me liguei em imagens de santos, mas respeitava. Aquela imagem tinha uma vestimenta vermelha e em uma das mãos um cajado. Ficava em uma espécie de prateleira na cabeceira de nossa cama. Confesso que muitas vezes tive medo daquele cajado. Era uma miniatura, mas mesmo assim minha imaginação ia longe e chegava a pensar que um dia ele ainda infincaria aquele cajado em minha cabeça. Junto a todas estas lembrancinhas e enfeites havia um chaveiro e pendurado nele um chapéu de cangaceiro que meu marido havia trazido de um passeio ao Nordeste. Meu trator Neusa, num dia de elevada inspiração, tirou todas as miudezas para limpá-las e ao retornar cada coisinha em seu lugar observou que havia sobrado um chapéu. Não teve dúvida. Enfiou o chapéu do cangaço na cabeça do santo do cajado. Claro que provocou a ira de meu marido e eu não pude conter as gargalhadas.
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