Leu o anúncio e acreditou. Estava mesmo na pior fase de sua vida. Vidinha besta, sem entusiasmo, sem expectativa, sem graça. Quem sabe aquela mulher do anúncio diria algo que mudaria sua vida. Não hesitou. Foi. Na pequena sala algumas pessoas também aguardavam. Olhou à sua volta. Reparou pequenos quadros na parede. Um jarro com flores enfeitava a pequena mesa ao centro forrada com uma toalha de renda bastante encardida. Em lugar do requinte, simplicidade e esquecimento. Um leve arrepio percorre seu corpo. Silêncio. Olhares trocados sem perguntas. Olhares mortos à procura de brilho. Boca seca. Coração acelerado. Na salinha compartilhada somente sussurros. Ouvidos atentos. Frases incompreensíveis. Vez de um. Vez de outro. Sua vez. Vez da busca. Vez do acalanto. Vez da esperança. Cartas na mesa. Escolhe uma. Tira do monte. Deixe de lado. Coloque em cima. Disponha em baixo. Corte com a mão direita. Escolha com a esquerda. Envolveu-se. Escutou. Tira daqui. Coloque ali. Embaralhe lá e eis que surge implacável a tão temida carta da morte. Tinha dia, tinha mês, tinha hora, tinha ano e tinha dono. Estava marcada. As cartas não mentiam jamais! Saiu atordoada. Viveu os piores dias de sua vida e em data marcada, adiantando apenas a hora, suicidou-se. As cartas tinham razão. Era horário de verão.
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