segunda-feira, 13 de setembro de 2010

HERÓI DE GUERRA???

Em festas e rodas de bate-papo lá estava ele. Não perdia a oportunidade de sacar do bolso de seu paletó um pequeno documento com seu nome e fotografia. Esta indicava que o documento era bastante antigo.

O pequeno cartão passava pelas mãos e olhos curiosos da pequena platéia. Ele enchia-se de orgulho um orgulho que eu não entendia. Escutava aqui e acolá que no documento escrevia “Sargento Reformado” e era isso que o envaidecia. Eu era muito pequena para entender o que realmente se passava então pegava carona nesta viagem e pensava: Como pode alguém ficar feliz por ter sido reformado? Entendia por reforma o que entendo até hoje. Reforma significa melhorar o que está estragado. Dar “um tapa” como diz na gíria. Corrigir um pouco aqui e outro pouco ali para não ter que substituir. Então se era isso qual era o motivo do orgulho? E olhando bem para ele nem parecia que tinha sofrido esse trato todo. Se ele era pior do que o que eu via, céus! Melhor mesmo não tê-lo conhecido antes da tal reforma!

Fato é que o tempo também passou para mim e aos poucos fui aprendendo que Sargento Reformado era lá coisa do nosso Exército. Um título dado a ele. Descobri há pouco tempo que era mesmo somente um título. Vou contar.

Contam que o sujeito não se preocupava muito com trabalho. Não desenvolvia muito bem esta arte. Aconteceu a Segunda Guerra e lá foi ele inscrever-se como voluntário. Naquela mesma noite embarcou em um navio que o levaria para o campo de confronto com o inimigo. A partir dali ele conquistara muitos inimigos. Lágrimas da esposa. Indignação da família. Muitos pedidos para não continuar. Nada disso o impediu. Partiu. A longa e dura viagem não alcançou sequer qualquer fronteira, aliás, alcançou sim, afinal o navio saiu de São Paulo e foi bombardeado no Rio de Janeiro. Muita confusão e muita choradeira, pois as notícias que chegavam davam-no como morto em combate. Em combate? Muito tempo depois, não sei precisar se dias ou meses, chega a notícia de que um soldado foi encontrado em péssimo estado, mas vivo, nas proximidades de onde o navio havia sido bombardeado. Este soldado, que sequer havia freqüentado o Exército e tão pouco dado ao menos um tiro, foi recebido pelo Exército como herói de guerra, nomeado Sargento Reformado e o que é melhor: um belo pagamento no final de cada mês. Nunca mais precisou preocupar-se com aquilo que nunca havia lhe tirado o sono: Trabalhar.

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