Em bares, botecos, botequins e afins de tudo acontece. Os assuntos são diversos e alteram-se a cada gole, a cada copo que se esvazia e a cada um que chega aumentando a reunião. Falam de tudo. Trabalho, família, vizinhos, amigos, futebol, política, culinária, mulheres. Enfeitam as horas. Esquecem-se na madrugada. Nesta noite não havia clientes pendurados no balcão. O dono não precisou enxotar nenhum bebum desavisado. Bar vazio, pronto para ser fechado, um casal entra e o sujeito pede uma cerveja. Aparentavam ser daqueles casais que não param em bar nenhum, mas bebem em todos. Percebia-se já alterados pelo álcool. O homenzinho iniciou conversa com o dono do bar. O dono, pouco receptivo àquela hora da madrugada, respondia laconicamente, mas o sotaque não passou despercebido pelo homenzinho que mostrava vontade de falar. Não demorou muito veio a pergunta a qual o dono já não suportava mais responder: Você é estrangeiro? Olhou com irritação para o cliente, mas respondeu que sim, era estrangeiro. O homenzinho se encantou e decidiu falar de igual para igual, querendo talvez, mostrar seus conhecimentos internacionais. Começou aumentando o tom de voz. É impressionante a confusão que as pessoas fazem em casos assim. Estrangeiros não são obrigatoriamente surdos. Também passou a gesticular as mãos fazendo mímicas. Estrangeiros não são obrigatoriamente mudos. E dizia: - Mim caminonéro. Tieno caminhón. Batia no peito e juntava as duas mãos como que num volante de automóvel. - Mim entrega madéra São Pablo. Batia no balcão apontando a madeira. - Mim gosta trabaiá madrugada. Olhava para a mulher e sorria com orgulho de si mesmo. O dono do bar apenas escutava e de quando em quando olhava para o relógio que lentamente movimentava seus ponteiros. Novamente ele dizia: - Mim gosta conversá com gente de otras tierras e é por isso que mim agora puede falá conocê. Olhava para a mulher e dizia: Bieja, mire, ela no puede entrá no assunto porque no apriende nadia. O dono do bar percebendo que a cerveja estava acabando e temeroso de haver um novo pedido e ter que suportar mais uma conversa carregada de gritos e cheia de mímicas, disse: Se estão viajando é melhor não beber muito e também já estava pensando e baixar as portas quando vocês chegaram. - Fique tanquillo gringo. Mim termina esta e vai bora. Osté conece São Pablo? És una linda cidá. Siempre biajo para alá. Mim entrega mucha madéra por alá. Pronto! Lá vinha toda a história de novo. O dono do bar pensou: bêbados... bêbados... e ficou somente escutando aquele homenzinho que gesticulava, falava alto, orgulhava-se de si mesmo e criava um novo idioma.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
NO BAR - UM
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